13 julho 2013

José Neto, antigo militante do MST-Ba, faz algumas considerações sobre a conjuntura


As mobilizações de Junho

Desde que a juventude saiu às ruas lutando contra o aumento das passagens em São Paulo, várias outras demandas sociais foram sendo incorporada as bandeiras de luta, desde pontos específicos e que representavam avanços para a classe trabalhadora e para juventude com mudanças na estruturas de dominação do sistemas capitalista como o 'Passe Livre' e o Projeto de Transporte Público, até as demandas desprovida de sentido práticos e que, em suma, desvirtuava o poder transformador do povo em luta; seus apelos por uma melhor educação, uma saúde publica de qualidade e também o polêmico “combate a corrupção” são todos legítimos, este último ponto, no entanto, na conjuntura sobre a qual ecoou, passou longe de ser uma demanda concreta do conjunto dos trabalhadores e sim, muito mais, um grande esforço do partido ideológico das elites – a mídia – para pautar eleições de 2014, mas sobretudo, pautando a consciência das massas na rua.

Mas as principais mudanças se referem ao caráter das mobilizações, seu nascimento está marcado pelo protagonismo da juventude, que graças a truculência da PM, ganhou o apoio da população e junto com esse apoio veio um sentimento de nacionalismo gritado em coro pelas várias vezes em que se cantou o nosso Hino Nacional. A bandeira do Brasil virou mando sagrado e peça indispensável nas passeatas. Mas para além dessas características, o fascismo político e a dura repressão materializada em gritos de ordem como: "sem partidos" ou ainda nas agressões físicas sofridas pelo militantes do PSTU e vários outros partidos além dos militantes de esquerda de organizações de classe que estavam nas ruas, demonstravam a fragilidade do movimento que apesar de ser um marco na história de luta no país, necessitava assumir verdadeiramente sua natureza REVOLUCIONARIA, para a partir dessa identificação ideológica construir os próximos passos . Cabe ressaltar que a repressão se deu contra os partidos de esquerda, por que são este que apesar das contradições sempre estiveram lutando por melhorias para classe trabalhadora, seja no plano institucional, seja na luta social.
Bem, a leitura que se faz desse primeiro momento, nos colocam diante de duas situações claras, primeiro: a ingenuidade políticas de muitos dos manifestantes que estavam indo as ruas naquele momento, e, fica fácil perceber essa constatação ao ouvir o principal grito de ordem, "o gigante acordou". Segundo, e a principal reflexão, o poder de deturpação das luta exercido pela direita - e de forma clara pelos capitalista e seu representantes nas várias esferas da vida pública e privada – mostra que eles conseguiram da o tom das manifestações durante a maioria do tempo que as massas estiveram nas ruas e com um claro objetivo, desgasta o governo Dilma e jogar sobre a esquerda e seus partidos as mazelas sociais e econômicas resultante do sistema capitalista e do modelo neoliberal.

As mobilizações de Julho

Quanto ao caráter dessas mobilizações, as mudanças ocorridas nesse período inserirão 11 de julho de 2013 como uma data histórica para os trabalhadores, não simplesmente pelos atos realizados de norte a sul do país nas capitais e no interior, no campo e na cidade, mas, ainda mais pela unidade de luta constituída pelas oito centrais sindicais, somada a força do MST e da Via Campesina além do Movimento Negro, e vários outros sujeitos responsáveis pela organização da classe trabalhadora.
As atividades realizadas foram, em contraste com os protestos de junho, organizada por entidade de classe, partidos políticos que são de esquerda, movimentos sociais e centrais sindicais, isto é, organizações que tem sua natureza definida e uma estratégia de classe mirada, que assumem um posicionamento de classe – e não está em debate aqui as peculiaridades ou erros desses sujeitos -, mas sim, a força resultante da unidade da ação na retomada da luta por um projeto popular para o Brasil.
O que foi visto e realizado hoje, é histórico por apresentar um novo cenário de lutas, abrindo um precedente que viabiliza a unidade de ação entre os vários sujeitos que fazem a luta de classe no país, entendendo que acima dos programas individualizados de cada central sindical, ou ainda da necessidade de cada categoria profissional, para além dos movimentos sociais, está a necessidade da classe trabalhadora do campo e da cidade, e, devem estar acima do Governo mesmo que esse seja de esquerda.
A urgência de se fazer transformações na estrutura econômica e política desse país, transformações essas, que devem atender os anseios da classe trabalhadora que foram, certeiramente, muito bem representada no conjunto das pautas reivindicadas: piso salarial regional, fim da violência e do genocídio da juventude negra, combate a seca, transporte publico de qualidade, redução da tarifa, mobilidade urbana, fim do fator previdenciário e recuperação do poder de compra pelos aposentados, jornada de 40 horas sem redução dos salários, fim do Projeto de Lei 4330 que amplia a terceirização, mais investimentos em saúde e educação, reforma agrária e fim dos leilões de petróleo. Todas essas reivindicações podem ser atendidas a curto, médio e longo prazo , ficou claro para todos os brasileiros que o povo organizado e nas ruas lutando por mudanças concretas é capaz de transformar a nossa realidade, mas a velocidade com a qual as pautas vão ser debatidas, votadas e/ou esquecidas vão depender da qualidade da luta desenvolvida. Ou seja hoje 11 de julho de 2013 já entrou para história pelos vários motivos já citados, no entanto é apenas o primeiro passo, a grande questão é saber, e definir quais os próximos passos. De forma concreta a luta começa agora.

As lutas em Salvador

A capital baiana acordou sem poder andar, já que os rodoviários aderiram ao dia de lutas realizado pelas centrais sindicais, por isso os 2500 ônibus que fazem o transporte de mais de um milhão de soteropolitanos só começaram a circular a partir das oito horas da manhã, e com esse espírito combativo os rodoviários também trouxeram a tona, com a tônica da ação, uma das reivindicações da classe trabalhadora: a mobilidade urbana, que em Salvador não existe, sendo uma das capitais que os trabalhadores mais passam tempo em engarrafamentos, cerca de três horas diárias, mesmo pagando altas taxas nos ônibus coletivos (R$ 2,80) que por sinal, embora caro, tem um serviço de baixa qualidade.
Junto com os rodoviários, no nascer do dia, também pararam químicos e petroleiros, e essas foram apenas as primeira mobilizações realizadas na cidade. Ainda durante a manhã a TV BAHIA afiliada a rede Globo teve sua sede ocupada por militantes, que tinham como objetivo dizer FORA A REDE GLOBO, e entenda esse FORA não só à rede Globo mas a tudo que ela representa enquanto meio de comunicação golpista, terrorista e tendencioso que tem uma posição de classe muito bem definida: CONTRA a classe trabalhadora e a serviço do capitalismo e da perpetuação de sua exploração. Não assusta que a emissora não tenha veiculado nenhuma nota relatando esse fato, pelo contrário aumentou o numero de repetição do comercial na qual se apresenta como a porta voz da verdade e vontade dos baianos.
Mas o que essa ocupação tem a ver com lutas realizada na capital e no resto do país? Simples, ainda não vivemos uma situação revolucionaria, no entanto é importante definir quem são os inimigos da classe trabalhadora e nesse contexto a rede Globo representa a maior emissora de tv do país e um importante meio de comunicação a serviços da dominação e domesticação dos trabalhadores, ocupando-a, denunciamos a necessidade de desarticular o monopólio dos meios de comunicação e a necessidade de se construir um projeto de comunicação popular.
Mas em Salvador assim como em todo o Brasil, o grande triunfo do dia de luta e a retomada das lutas sob a égide da classe, foi a classe trabalhadora que foi pra ruas reivindicando mudanças na estrutura de poder, provisoriamente não houve greve geral, mas ficou claro que o poder dos trabalhadores não está no ato de votar, e, sim na capacidade de parar à produção, a circulação e o país.
Sim tivemos avanços importantes! Como a histórica unidade de luta, no entanto nada ainda foi conquistado, a pauta de reivindicações não foi atendida e seria inocência imaginar que fosse tão prontamente feitas as devidas mudança e é por este fato concreto se faz imprescindível dar um salto de qualidade nas lutas realizadas, qualidade esta que só pode existir a partir da Formação dos trabalhadores, formação política e ideológica, que deve suprimir o particularismo partidarista e sindicalista em nome da Unidade da classe trabalhadora. Não se trata de abandonar os partidos ou muito menos os sindicatos, eles são importante e tem papel fundamental na luta, porém são apenas instrumentos e não o objetivo final.
Essa reflexão se consubstancia na observação que o ato realizado na cidade de Salvador representou avanços quanto ao caráter das mobilizações, que se apresentou de esquerda e o fundamental da classe trabalhadora, no entanto faltou o ATO concreto que afirma -se a luta e mostra-se que estamos assumindo o controle, não queremos mais reagir ao ataque do capital e, sim atacar o capital, afirmando a posição de classe organizada que reconhece seu inimigo e entende que o caminho para libertação exige luta constante e organizada.
Outro ponto a ser analisado se refere a audiência realizada com o prefeito ACM Neto, até porque, não se sabia até o fim da mobilização na frente da prefeitura, o resultado daquela audiência. Os trabalhadores marcharam e retornaram as suas casas sem saber o resultado daquela audiência e por isso perdeu-se uma oportunidade de pressionar o prefeito. Maracutaia da prefeitura de ACM Neto (DEM-Ba) que arrastou a audiência até por volta das 19:00 da noite quando os trabalhadores não estariam mais mobilizados em frente a prefeitura para acompanhar o resultado da audiência sobre o passe livre.
O que ficar deste dia? Fica a luta, fica a unidade da ação, fica a demonstração de poder inerente a classe trabalhadora, e ainda mais, fica a necessidade de formar os trabalhadores; arma-los com o principal instrumento de lutas: a consciências de classe e o seu papel fundamental na transformação desse país.
Para encerrar essa breve analise, acredito que um grito de ordem entoado pelo MST dá a tônica exata do que foi o dia Nacional de Lutas, do que pode ser e, deve ser as próximas lutas da classe trabalhadora rumo a sua libertação.


QUANDO O CAMPO E A CIDADE SE UNIR
A BURGUESIA NÃO VAI RESISTIR!!!

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