EIVI

Sobre o Estágio Interdisciplina de Vivência e Intervenção na Bahia



Os Estágios de Vivência surgiram na no final da década de 80, precisamente em 1988, em Dourados no Mato Grosso do Sul em áreas do recém-criado Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A principio foi uma iniciativa dos estudantes da Federação dos Estudantes de Agronomia – FEAB, que insatisfeitos com a formação acadêmica voltada para atender as demandas das grandes empresas agrícolas, visualizavam na ferramenta a possibilidade de formar profissionais mais atrelados a realidade do povo e também de fazer uma formação política com o movimento estudantil mais próxima do povo, ombro-a-ombro com a classe trabalhadora organizada. Essa atividade, rendeu, em 1992, a FEAB, um prêmio concedido pela UNESCO, como iniciativa de destaque da juventude Latino-Americana. Nesse mesmo ano o Estágio foi nacionalizado e consequentemente ampliado para vários estados da federação. Se no inicio contava em grande parte com estudantes das agrárias, agora, com ampliação, o Estágio começa a ganhar um contorno interdisciplinar e várias outras executivas de cursos, diretórios e centros acadêmicos e outras organizações do movimento estudantil que se balizam no campo do projeto popular se inseriram na construção do Estágio, amarrados a três princípios que direcionariam o caráter da ferramenta: a interdisciplinaridade, que ampliava o leque analítico da realidade; a cooperação entre movimento estudantil e movimento social; e a não-intervenção nas áreas onde o Estágio acontece.

Na Bahia, a mais de 10 anos acontece o Estágio Interdisciplinar de Vivência e Intervenção em áreas de reforma agrária e em comunidades rurais, envolvendo estudantes universitários, profissionais e trabalhadoras e trabalhadores rurais e da cidade. O estágio é construído pelo NEPPA e o GAIA (Grupo de ação interdisciplinar em agroecologia) e apoiado pela UFBA, UFRB, UNEB como atividade de extensão, parte da tríade do conhecimento acadêmico. “O EIVI compreende a Intervenção como fruto de um trabalho permanente de extensão nas comunidades, baseado na Educação Popular. Este é o principal elemento que o diferencia do EIV realizado em outros estados brasileiros” afirma Carla Miranda, estudante de pedagogia na UNEB e militante do NEPPA.

O estagio é experimento praxiológico (teórico-prático) de Educação Popular que compreende três dimensões: Capacitação de Educadores Populares, realização de Extensão Universitária e problematização por parte da comunidade sobre sua realidade e seus problemas em uma perspectiva transformadora. Para isso, o estágio é dividido em 3 momentos pedagógicos complementares: capacitação e formação política; vivência nas áreas e comunidades camponesas; avaliação e encaminhamentos.

No primeiro momento passamos cerca de seis dias em formação, num processo de capacitação teórica com muita alegria e disciplina militante, sobre a questão agrária no Brasil, como funciona a sociedade, educação popular, feminismo, questão racial, dentre outros pontos.

Logo após, no segundo momento, as estagiárias e os estagiários se deslocam para as comunidades organizadas nos Movimentos Sociais. Os estagiários são adotados pelas famílias camponesas que juntos compartilham a vivência cotidiana em cada lar, assim como, contribui no fortalecimento da organização na comunidade, na luta pelos direitos básicos e na reafirmação da identidade camponesa.

Nos dois últimos dias o EIVI completa seu ciclo na avaliação, um momento em que os participantes podem compartilhar as experiências, as expectativas pós-estágio e expressar o que significou esses dias vividos. “O estágio de vivência proporcionou conhecer a realidade da reforma agrária no Brasil, programada para não dar certo. Permitindo ter o contato com uma verdade que nunca passará nos meios de comunicação burgueses, os quais sempre defenderão as versões dos fatos que beneficiam o sistema capitalista e aquelas pessoas que o fazem girar de forma atroz”, avaliou Raumi, militante do MST.

No EIVI é possível aprender a sabedoria popular que, como afirma Yohana, estudante de Engenharia Florestal da USP, vem sendo esmagada e desvalorizada pelo sistema capitalista ao alimentar conhecimentos burgueses e elitistas. “É nessa perspectiva de luta que nos juntamos, porque juntos sempre seremos mais fortes”, apontou.

Os movimentos sociais participam ativamente de todos os momentos, trazendo à tona suas pautas e a realidade do campo brasileiro. Carlos Alberto Santos, militante do MST e técnico em Informática, participou do 7º EIVI como estagiário e reafirma a importância dos estudantes irem para as comunidades, mas é necessário refletir sobre a forma de atuar. “É preciso ouvir o que o povo diz e considerar os dois tipos de conhecimento: o acadêmico e o popular”.

Érica Anne Oliveira, coordenadora do MPA, foi uma das monitoras do Estágio. Ela como filha de camponeses do sertão baiano diz que considera muito importante trazer pessoas que vem de realidades muito distintas para vivenciarem o que acontece no campo brasileiro e pensar em outros rumos profissionais. “Os camponeses são invisibilizados pelo Estado e pela mídia. Quando muito, somos vistos como apenas produtores de alimentos. Nós somos humanos, temos direito e demandamos desde a alfabetização até tecnologia de ponta. Queremos desenvolver todas as nossas capacidades e sonhos se mantendo no campo”, conclui.

A universidade, em seu projeto filosófico, visa a formação de sujeitos capazes de pensar e atuar para a transformação e desenvolvimento social do meio em que estão inseridos – o que inclui as dimensões técnicas, culturais, artísticas sócio-políticas, entre outras. Neste sentido é o EIVI, um instrumento para a formação de profissionais populares, os quais necessitam viver com o povo, descobrir-se povo, na medida que ampliam sua percepção sobre quais são as suas reais necessidades em quanto povo brasileiro.




Cordel do EIVI 

Eu vi
vai ser daqui a pouco
o que danado é isso
pra que tanto compromisso
com esse diabo louro?

já me disseram
já ouvi falar
é um negocio gigante
que vai acontecer neste instante
quando o próximo ano entrar
Gente daqui, gente dacolá
desce para a comunidade
faz vivência e intervenção
e se brincar se manda até para a ocupação
em cima da moléstia de um caminhão
Mas fique sabendo você
que o EIVI não é brincadeira não
tem que organizar cedo
fazer tudo com zelo
pro negocio ficar de pé como agente quer
Logo no inicio a gente se separa
em comissão
tem pedagógica, tem logística,
e tem que ter
também a da alimentação

o relógio da soluço
o tempo não para
o estagio desmente
a globo que mente
sobre a reforma agrária
Aqui ficam para trás as coisas
o projeto popular ecoa
no EIVI tem estudante, tem assentado
tem militante, tudo gente boa
É chegar na comunidade
com o coração aberto
e os pés no chão,
pra quando voltar para casa
ficar a saudade e a contribuição
Agente já está em Novembro
daqui a pouco entra Dezembro
e vai começar o Carnaval
Segura todo mundo, o EIVI é grande
e não esta distante
é hora de articular e garantir o levante
Contagem regressiva para Janeiro
da atividade maior do ano inteiro
e não esqueçamos nós
que o EIVI é uma esquina na vida
Por fim resta dizer
que o EIVI tem de tudo um pouco
luta, amor, reforma agrária
saúde, movimento
militância de ombro com o povo
e para aqueles que forem chegados
tem até um tantinho
de cuscuz com ovo.

Alguns registros dessa experiência teórico-prática:  

XII EIVI













XI EIVI











 X EIVI










IX EIVI



VIII EIVI

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